"APRESENTAÇÃO DO VÍDEO "MULHERES DE ATENAS NO MUSEU NACIONAL

Em 1976, Chico Buarque e Augusto Boal (1931-2009) compõem a música “Mulheres de Atenas” para a peça “Lisa, a Mulher Libertadora”, de autoria do próprio Boal, idealizador do Teatro do Oprimido, que alia o teatro à ação social. Assim, inserido no contexto da luta pela emancipação feminina, Boal fez uma adaptação de “Lisístrata”, escrita em 411 a.C. por Aristófanes (ca. 447 a.C. – ca. 385 a.C.), importante comediógrafo da Grécia Antiga. A peça tratava uma rebelião de mulheres atenienses, que, sob a liderança da personagem-título, resolvem fazer greve de sexo para forçar seus maridos a acabarem com a Guerra do Peloponeso (conflito armado entre Atenas e Esparta, ocorrido entre 431 e 404 a.C.). A adaptação teatral de Boal objetivava contribuir para o questionamento do paradigma de submissão das mulheres contemporâneas baseado numa concepção de gênero, oriunda em grande parte da tradição greco-romana. No senso comum, prepondera a imagem da ateniense restrita ao gineceu, aposento das casas da Antiga Grécia reservado às mulheres. Contrariamente, a personagem Lisístrata subverte a ordem tradicional de submissão feminina com as “armas” que as mulheres dispunham; há um claro empoderamento feminino. Infelizmente, em 1976, quando a música foi lançada no disco “Meus caros amigos” de Chico Buarque, ele foi criticado por aqueles que desconheciam o seu contexto de produção e viram, injustamente, uma apologia à sujeição das mulheres. Respondendo essas acusações, o próprio Chico Buarque, em entrevista, declarou que a ideia era exatamente oposta: “Eu disse: mirem-se no exemplo daquelas mulheres que vocês vão ver no que vai dar.”

A partir da proposta original dos autores da música “Mulheres de Atenas” e condizente com os novos estudos acadêmicos sobre gênero feminino em Atenas Clássica, foi pensado, no contexto das Oficinas Pedagógicas de História Antiga da UFRJ subvencionadas pelo Edital Prodocência da CAPES/MEC, o presente vídeo “Mulheres de Atenas no Museu Nacional”. Na sua elaboração, realizada primorosamente pela então graduanda Luisa Tavares, foram utilizadas algumas peças da exposição “Culturas do Mediterrâneo”, componentes do acervo da Coleção Teresa Cristina do Museu Nacional. Assim, as “silenciosas Mulheres de Atenas do Museu Nacional” ganharam voz e elas ainda têm muito a nos dizer!